Texto: Thiago Tavares
Fotos: Felipe Domingues
No último dia 09 de fevereiro, o repórter que vos escreve e o fotografo Felipe Domingues presenciamos a renovação de uma das maiores bandas de rock/heavy metal do país. Uma renovação com “R” maiúsculo, digno de uma banda que nunca deveria interromper suas atividades devido ao grande reconhecimento e contribuição com a cena do metal no Brasil.
O Shaman voltou as atividades, iniciando na capital paulista com a Nagual Fly Tour e uma grande responsabilidade: reerguer-se após o fatídico falecimento do vocalista André Matos em 8 de junho do ano passado, devido a um infarto fulminante. De lá para cá, havia uma incerteza acerca da continuidade da banda, uma vez que não só todos os integrantes da banda, mas como uma legião de fãs e por que não dizer discípulos de André ficaram chocados com o fato. Mas como já dizia uma das mais célebres canções brasileiras “O show tem que continuar”. Enfim, após essa fase de luto, estávamos ansiosos em prestigiar a volta da banda no início de uma noite chuvosa daquele domingo.
Devidamente credenciados, adentramos a Áudio e essa sensação de ansiedade era perceptível também aos fãs e demais colegas de imprensa em querer saber como seria o “novo Shaman”, uma vez que já havia a divulgação de que Alírio Netto assumiria os vocais da banda, sem alterações nos demais integrantes e como seria a atuação do novo vocalista perante as músicas, sendo que seu desempenho no palco dispensa apresentações.
Mas para aquecer os motores da galera, houve a apresentação da banda Sioux 66 como banda de abertura que apresentou seu repertório distribuído em três álbuns lançados e que recentemente está trabalhando na divulgação do mais novo trabalho intitulado “MMXIX” (2019), onde dentre as músicas executadas, destacam-se “Paralisia”, “Respostas” e “Aqui Estamos”.
A banda é formada por Igor Godoi (vocal), Bento Mello (guitarra), Fabio Bonnies (baixo), Gabriel Haddad (bateria) e Yohan Kisser (guitarra) onde em uma apresentação de mais ou menos 45 minutos, trouxe boas impressões acerca das músicas para quem não conhecia a banda, entretanto, deve-se aplaudir de pé a iniciativa de bandas como a Sioux 66 em produzir um repertório completamente em português e assim poder expandir ainda mais a cena do metal brasileiro mundo afora, onde uma parcela da galera ainda torce o nariz e uma outra, não vê com bons olhos sob o aspecto financeiro/fonográfico.
Após o fechamento das cortinas, o público estava afoito em ver o ressurgimento do novo Shaman. Um Shaman que agora, tem um novo titular no vocal, com a grande responsabilidade de substituir André Matos. Substituir? Não é conveniente utilizarmos essa palavra, mas havia também um sentimento de curiosidade de como seria o Shaman na voz de Alírio Neto, por mais que ele tenha um currículo invejável com apresentações memoráveis como o musical Jesus Cristo Superstar e tendo atuado nas bandas Khallice e Age of Artemis e atualmente vocalista do Queen Extravaganza, o que poderíamos ver era uma apresentação a atura da banda e do André.
A ansiedade aumentou ainda mais quando foi executada Acident Winds, arranjo orquestrado de abertura do disco Ritual de 2002. Logo em seguida, foi tocada Turn Away do álbum Reason, onde durante a execução da mesma, foram captadas diversas cenas para a realização de um clipe, a ser exibido no futuro. Nesta música, literalmente Netto mostra seu cartão de visitas, no qual me surpreendeu bastante a sua interpretação.
Se muitos ficaram surpresos com a desenvoltura da primeira música, em Distant Thunder os elogios foram devidamente superados.
Em For Tomorrow já era possível desenhar o que iriam apresentar seria totalmente diferente da última apresentação da banda na capital paulista, e que durante a interpretação da música era nítido uma mistura de saudade e de alegria. Saudade por não ser o André cantando a mesma, mas também a alegria da galera era visível pois não só o Alírio mas como a banda estava se entregando demais para o show aos presentes. Eles estavam de volta, prontos e dispostos a fazer o melhor show.
Prova dessa entrega foram as execuções de Time Will Come e More, cover da banda Sisters of Mercy, muito bem executado e era perceptível como todos da banda estavam alegres e cheios de energia em escrever mais esse capítulo da banda.
Em meio ao clima de saudade e também de novas energias para a nova fase do Shaman, a banda apresentou a nova música de trabalho, intitulada Brand New Me, esta já com a assinatura de Alírio Netto. A mesma não foi apresentada em sua versão final, entretanto a proposta da letra é bem clara, onde em uma interpretação livre diz em Sentir o novo eu, escute o novo eu, onde nada dura para sempre. Uma clara mensagem que por mais haja o novo, não iremos esquecer do passado, da origem de tudo. O que pode-se ouvir na música são linhas tribais, vilões, piano, entre outros elementos. A galera cantou junto o refrão, uma vez que o mesmo foi divulgado antecipadamente nas redes sociais, mas tem tudo para ser um ótimo single para um futuro álbum de inéditas.
E é claro que não poderia faltar uma porradaria do disco Ritual: Here I Am que fez agitar o público presente na Áudio.
Mais a frente, veio a parte do show onde na minha visão foi a parte mais emocionante e emblemática (por que não dizer assim). A partir de Fairy Tale foi quando a saudade bateu no peito de cada espectador que estava presente naquele show. Olhava ao meu redor, e varias pessoas começavam a se emocionar, de ir as lágrimas com a interpretação de Alírio diante do piano. Eu olhava a ele percebi por alguns instantes que ao mesmo tempo que ele se entregava para uma ótima interpretação, seus olhos começavam a ficar marejados, com uma voz levemente embargada, e que sem sombra de dúvidas passou um mix de sentimentos na cabeça dele naquele instante, onde cantar uma música que é considera o cartão de visitas do Shaman e que somente era algo que André Matos fazia com maestria, realmente não era nada fácil. E o público reagiu muito bem, sendo ovacionado pela multidão. Claro que não poderia faltar a participação de um grande amigo de André e que se tornou perfeito ainda mais o espetáculo: o violinista Marcos Vianna.
Mas a emoção estava apenas no início. Se grande parte da galera já estava chorando com a interpretação anterior, o momento a seguir fez ninguém se conter. A banda sai de cena, ficando apenas Alírio e Marcos e em destaque, mais ao centro do palco é colocado o terno que André usava religiosamente em suas apresentações. Diante daquele terno, como se André olhasse para aquela multidão, a dupla executou um medley arrebatador que é a cara do mestre: Living for the Night do Viper, Endeavour da carreira solo, No Need to have an Answer do Virgo, projeto de 2002 encabeçado por Matos e o produtor Sascha Paeth e The Show Must Go On do Queen.
Uma vez com a apresentação chegando a seus momentos finais, prepararam um final que para mim foi bastante satisfatório: Born to Be, novamente com a participação de Marcos Viana, Ritual e Lisbon do álbum Fireworks do Angra.
Para fechar as contas em positivo, a banda chama o último convidado da noite. Bruno Sutter dividiu os microfones com Alírio Netto na interpretação de Pride, fazendo a parte do alemão Tobias Sammet.
Sobre tudo o que presenciamos, pode-se constatar que o Shaman veio com todas as forças, de uma forma que comoveu todos os presentes e também mostrou que ressurgiu para dar continuidade ao legado do mestre, onde de seus seguidores terão a grande missão de manter viva a chama do metal brasileiro. Viva André Matos! Vida longa ao Shaman!
Em nome do Ponto Zero, agradecemos a Heloísa Vidal da Free Pass Entretenimento pelo credenciamento para a cobertura.
Sioux 66:
Paralisia
Outro lado
Alma
Respostas
O Rei (O Que Te Faz Estar Aqui)
Bark at the Moon (Ozzy Osbourne cover)
Aqui estamos
Diversão (Titãs cover)
Caos
Shaman:
Ancient Winds
Turn Away
Distant Thunder
Reason
For Tomorrow
Time Will Come
More (The Sisters of Mercy cover)
Innocence
Brand New Me
Here I Am
Iron Soul
Fairy Tale
Medley: Living for the Night / Endeavour / No Need to Have an Answer/ The Show Must Go On
Born to Be
Over Your Head
Ritual
Lisbon (Angra cover)
Pride
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