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RESENHA: Roupa Nova – Citibank Hall

Por: Eduardo Carvalho

Uma típica noite de sexta-feira fria e chuvosa do inverno paulistano. Uma nem-tão-típica-assim sexta-feira para receber uma das bandas capazes de, ao longo de 35 anos, manter a mesma formação e apresentar-se com uma qualidade absurdamente ‘gringa’, digamos assim. Estamos falando de Metallica? Não. Iron Maiden? Muito menos! Estamos falando dos rock n’ rollers globais: ROUPA NOVA!!!

A experiência dar-se-á pelo fato de que, basicamente, os caras possuem um nível musical muito acima da média. A parceria destes 06 músicos e vocalistas (nota importantíssima neste quesito: todos – e quando digo ‘todos’, me refiro a absolutamente todos os 6 membros da banda, cantam MUITO bem!), formado por Paulinho (percussão), Serginho Herval: (bateria), Nando (baixo), Kiko (guitarra e violão), Ricardo Feghali (piano, teclado, guitarra e violão) e Cleberson Horsth (piano e teclado) é a chave do sucesso. São todos compositores e/ou produtores de si mesmos e de vários outros artistas, variando da música sertaneja ao gospel. Vale acrescentar que, ultimamente, um músico adicional tem aparecido como apoio de gaitas, harmônica e saxofone.

Como o próprio Nando mencionou em um dos vários momentos indagando o público, a banda emplacou um número sugestivo e expressivo de hits nas paradas brasileiras, desde 1980, com a estreante ‘Canção de Verão’: o grupo chegou a marca de 53 sucessos musicais!!! Uma média absurda de quase 2 músicas por ano! O que significa que esses caras realmente se mantiveram ativos durante todo esse tempo. Entre shows, tours comemorativas, acústicas, programas de televisão, trilhas de novelas, trilhas de personalidades e programas televisivos. Enfim, dentre tantas considerações a serem feitas, assistir a esses caras é uma experiência única, seja você, leitor, um fã ou não da banda.

Após um imenso sucesso nos shows realizados em 2014 aqui na terra da garoa, os dias 03 e 04 de julho, sexta-feira e sábado, foram reservados para a estreia do novo show da banda – agora celebrando os 35 anos de carreira! Com ingressos esgotados com antecedência para ambos os dias, o público – em sua maioridade, acima dos 35/40 anos, chegando a uma faixa etária bem mais elevada! -, estava bastante animado, mesmo para quem conhece um pouco destes tantos sucessos, fica fácil notar que, ainda que a seja necessário a banda intercalar algumas canções mais recentes, com algumas mais antigas, o foco do show permanece em encontrar meios para encaixar tantas destas músicas queridas pelo seu público em quase 2 horas de show.

O início do show foi com um vídeo introduzindo ao público uma breve resenha da história da banda, com alguns depoimentos de famosos. Na sequência, o pedido que façam ‘muito barulho’ para, na sequência, os ‘jovens’ músicos adentrarem o palco e sentarem em 6 banquinhos estrategicamente posicionados à frente do palco. Eles iniciam ‘Sapato Velho’ de maneira acústica e, no segundo refrão, tomam seus postos elétricos e iniciam o bom e velho rock n’ roll / pop que os consagrou até aqui.

O show prosseguiu com “Linda Demais” e, uma música mais recente, “Sonhando”. Depois com as já conhecidas “Nos Bailes da Vida”, “Volta Pra Mim” e “A Força do Amor”. “Tenha Fé Na Música” (uma versão bem mais calma e abrasileirada de ‘God Gave Rock n’ Roll To You’, do Kiss) e “Felicidade” dão o toque positivista e otimista da noite, com discursos dos artistas dando grande ênfase na busca pelos sonhos e pelo respeito ao próximo.

Aliás, estes destaques ficam evidenciados pelos momentos de conversa entre Nando e Feghalli com o público. Sempre contando pequenos relatos da carreira, brincando aqui e acolá, tudo aparentemente muito bem ensaiado e corrigido para manter o alto nível do show.

Um dos momentos mais esperados, particularmente falando, foi a sequência, quando posicionaram uma bateria eletrônica à frente do palco, e foi introduzido o baterista Serginho Herval para dar início aos clássicos da banda que possuem sua voz como destaque. E assim o fez com empenho e exímia técnica. Este cara, sem dúvida alguma, é um dos maiores bateristas da música brasileira. E, aliado a isso, foi capaz de imputar sua voz a tantos clássicos. Um momento propício, diga-se de passagem, para a mulherada enlouquecer em gritos histéricos e chamamentos sexuais ao pobre Serginho que, obviamente, deu um show à parte, tocando e cantando “A Viagem”, “Chuva de Prata”, “Amar É”, “Bem Maior” e “Começo, Meio e Fim”.

Depois vieram “Clarear”, “Cantar Faz Feliz O Coração”, “Seguindo no Trem Azul” e a nova (na verdade, nova para o Roupa Nova, pois trata-se de uma canção do Rei Roberto Carlos) “Tempo de Amar”, que estará no próximo trabalho do grupo, explicado rapidamente pelo Nando, e contará com várias participações especiais por tratar-se de um álbum conceitual, com toda uma história por trás. Outro show à parte fica por conta do momento seguinte, onde o Roupa Nova faz uma medley das trilhas que já criaram ao longo da carreira. O destaque fica por conta da trilha do ‘Rock In Rio’, ‘Xuxa’ e, claro, o ‘Tema da Vitória’ do saudoso Ayrton Senna. Emocionante!

Para abranger uma maior gama de sucessos, o momento seguinte foi quando os 6 se dividiram em duplas para apresentarem clássicos da banda de uma maneira acústica e mais simples. Mas, por ‘simples’, não se deve entender como algo pobre. Pelo contrário, novamente, a banda demonstrou o companheirismo harmônico que há entre os músicos, sendo que, em todas as 3 apresentações de duplas, ambos cantaram e tocaram algum instrumento. A idéia é excelente e funciona muito bem! Deixando que cada um dos membros da banda tenha seu momento de destaque e aplausos. As duplas foram formadas por Serginho e Cleberson, tocando ‘Anjo’; Kiko e Paulinho, tocando ‘De Volta pro Futuro’ e; Nando e Feghali, tocando ‘Meu Universo’.

Falando em alto nível, uma demonstração clara do quão fantásticos estes caras são, além de toda produção de luz e som impecáveis (apesar dos problemas relatados pelos músicos com relação aos fones, retornos e clicks), foi quando solicitaram silêncio total ao público presente – cerca de 4000 fãs e convidados. Tomaram seus postos à frente do palco, novamente, e absolutamente ‘desmicrofonados’, ou seja: sem qualquer aparelhagem ligada ao som da casa, apenas com suas potencias vocálicas, os 6 entoaram “Yesterday”, clássico dos Beatles, de 1965.

Uma apresentação de tirar o fôlego pela segurança e capacidade de enfrentar uma casa do tamanho do Citibank Hall (para os que não conhecem, atualmente deve ser a maior casa de shows de São Paulo, com capacidade para quase 7000 pessoas!), desta forma, sem microfone ou qualquer outra possibilidade de auxílio vocal. “Yesterday” na voz do Roupa Nova continuou sendo um verdadeiro clássico!

Na sequência, um vídeo deixava o Padre Fábio de Melo participando da execução de ‘A Paz’, seguida pelos clássicos “Coração Pirata”, “Dona”, “À Flor da Pele” e “Show de Rock N’ Roll”, para encerrar com chave de ouro a primeira parte do espetáculo!

O bis foi ocasionalmente e propositadamente deixado para que a banda se divertisse também um pouco no palco. E a canção escolhida, na realidade, foi um grande medley rock n’ roll, composta por inúmeros sucessos que provaram das características roqueiras dos músicos. Contando com Bon Jovi, Creedence Clearwater Revival, Rolling Stones, The Beatles, Nirvana, Queen e Guns N’ Roses, o Roupa Nova prestou uma imensa homenagem a vários daqueles que ajudaram e os influenciaram a torná-los o sucesso que eles alcançaram aos 35 anos de carreira. O destaque aqui, fica por conta do Paulinho. Extraordinária capacidade de cantar tantos clássicos, num espaço curto de tempo, com tanta potência e segurança. Não há tempo para desafinar ou respirar, os caras simplesmente são incríveis!

Um show para guardar na memória e, claro, quando o show é tão bom assim, o gostinho de ‘quero mais’ fica na ponta dos dedos para já reservar ingressos pro show de Setembro, que já está agendado para SP novamente. Vale ressaltar a produção impecável do show (Carlos, produtor da banda, extremamente gentil e atencioso!), assim como a recepção e espaço que a T4F nos proporcionou com a possibilidade de cobrir este showzaço do Roupa Nova!

Ao som de tantos clássicos, o jeito é encerrar esta resenha cumprimentando e aplaudindo de pé esta banda, que é, sem sombra de dúvidas, um verdadeiro e completo orgulho para a música brasileira!

Vida longa e próspera ao Roupa Nova!

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