O Summer Breeze Brasil voltou em 2024 maior, mais ambicioso e com vontade de se firmar de vez no calendário de festivais nacionais. Depois de uma estreia empolgante no ano anterior, que deixou os fãs de música pesada com o coração aquecido, a expectativa era alta para a segunda edição. E ela veio com tudo: três dias de festival, dezenas de atrações internacionais e nacionais e a promessa de uma experiência ainda mais completa.
Mas como toda caminhada ousada, houve tropeços no caminho.
Bastidores turbulentos e mudanças sentidas
A primeira surpresa, ainda no início do ano, foi a saída da Free Pass Entretenimento da organização do evento. Embora tenha sido comunicada de forma oficial, a ausência de um tom amigável ou de agradecimento mútuo entre as partes deixou claro que a separação não foi tranquila. Isso gerou preocupação em parte do público, que temia que a estrutura ou a qualidade da produção fosse prejudicada.
Além disso, a divulgação da parceria com a Consulado do Rock — referência nacional em merchandising — foi feita sem muito alarde. E isso fez falta. Em tempos em que camisetas de bandas são verdadeiros troféus de fãs, entender como funcionaria essa parceria e o que estaria disponível no evento teria ajudado a gerar mais expectativa e menos dúvida sobre os rumos do festival.
Line-up certeiro e curadoria temática
Se tem um ponto em que o Summer Breeze acertou em cheio foi na escolha das bandas. O sábado (27/04), segundo dia do festival, foi o grande destaque. Quem curte metal melódico teve um verdadeiro banquete: Epica, Within Temptation, Lacuna Coil, Hammerfall, Gamma Ray e Angra fizeram a alegria de quem cresceu nos anos 2000 escutando riffs rápidos e vocais grandiosos. A coesão das atrações fez o dia fluir naturalmente, como se fosse um único espetáculo com múltiplos atos.
O domingo (28/04), ainda que com um público um pouco menor, manteve o bom nível. Teve espaço para o peso visceral do Carcass, o carisma do Blind Guardian, a performance surpreendente da Avatar, e o som moderno e técnico de bandas como While She Sleeps e Killswitch Engage. Um dia mais eclético, mas bem balanceado. A sexta-feira (26/04), por sua vez, foi a que mais sofreu com o horário: começar às 11 da manhã em plena sexta útil é pedir para o público chegar esvaziado. Boa parte das bandas tocou para plateias reduzidas, o que prejudicou até mesmo nomes relevantes. Para 2025, os organizadores já anunciaram que o dia será reformulado, em formato “aquecimento” com menos atrações e começando mais tarde — uma boa sacada.
Estrutura: avanços visíveis, mas ainda com gargalos
Comparado à edição de 2023, a estrutura evoluiu — e muito. O espaço do Memorial da América Latina foi mais bem aproveitado. A disposição dos palcos principais (Hot Stage e Ice Stage, lado a lado, e o Sun Stage no outro extremo) foi mantida, o que facilitou a vida de quem já conhecia o terreno. A circulação entre eles, no entanto, ainda apresentou falhas, especialmente nos horários de pico. O caminho entre o Ice e o Sun, por exemplo, virou um verdadeiro funil no sábado, quando o público beirou sua lotação máxima.
Um dos maiores avanços foi na área dos banheiros. Saíram os incômodos químicos e entraram estruturas mais sólidas, com vasos sanitários convencionais e sistema de limpeza constante. Isso trouxe um alívio enorme, especialmente para quem passou mais de 10 horas por dia no evento.
O Summer Lounge, espaço premium com vista para os palcos e open bar, entregou uma experiência boa no geral, mas peca em prometer exclusividade e, na prática, oferecer longas filas na entrada e acesso confuso no primeiro dia. A promessa de “entrada separada e rápida” ficou só na promessa na sexta-feira, causando frustração entre quem pagou caro por isso.
O sistema cashless foi mantido, mas agora com uma vantagem: também era possível pagar com cartão, sem precisar recarregar pulseira. Isso acelerou bastante as filas. A área de alimentação estava muito bem servida, com diversos food trucks e barracas oferecendo desde hambúrguer artesanal até pratos vegetarianos, com preços salgados, mas não muito diferentes do padrão de eventos em São Paulo. Destaque para a área entre os palcos Sun e Waves, que virou uma espécie de “praça de alimentação ao ar livre” com sombra e bancos de madeira — um respiro bem-vindo entre um show e outro.
Som, sol e água — os três “S” do Summer
Um ponto polêmico da edição passada foi o volume excessivo do som, que neste ano foi ajustado para níveis mais confortáveis. Ainda era alto, como se espera de um festival de metal, mas sem machucar os ouvidos. A qualidade variou de palco para palco: o Sun Stage se saiu muito bem, com som limpo e bem equilibrado. Já o Ice Stage, especialmente na sexta, teve problemas sérios de equalização e microfonia. O Waves Stage, menor e mais improvisado, foi o que mais sofreu com falhas técnicas.
O calor foi um personagem à parte. Os três dias foram de sol intenso, com sensação térmica beirando os 40 °C no domingo. O asfalto escuro do Memorial absorvia o calor, e a falta de áreas sombreadas se tornou um problema real. Artistas reclamaram no palco, e o caso mais preocupante foi o de Jeff Walker, do Carcass, que passou mal e precisou encurtar o show.
E a água potável, novamente, foi uma dor de cabeça. Apesar de ser gratuita, o único ponto de distribuição era mal sinalizado, gerando filas enormes e impaciência. Um evento desse porte precisa ter pelo menos dois ou três pontos de hidratação, especialmente em tempos de calor extremo. Água gratuita não pode ser um bônus — tem que ser uma obrigação.
Entradas confusas e o dilema do Front Row
As filas na entrada do festival, especialmente na sexta, foram confusas e mal organizadas. Faltava sinalização e orientação para o público, o que gerou aglomeração e desinformação. O acesso ao Front Row, espaço premium próximo aos palcos principais, também foi mal planejado: só havia uma entrada e nenhuma saída lateral. Quem queria sair precisava atravessar a multidão — um verdadeiro sufoco em shows mais cheios. Uma simples saída adicional, próxima à passarela ou aos banheiros, resolveria o problema sem complicação.
O futuro do Summer Breeze no Brasil
A forma como a edição de 2025 foi anunciada também deixa a desejar. A revelação feita por Marcello Pompeu, vocalista do Korzus, no final do último dia, foi quase imperceptível. Um festival desse porte merece um anúncio impactante, com teaser, telão e fanfarra — algo à altura da emoção dos fãs.
O Summer Breeze Brasil ainda é um festival em construção, e isso é natural. Mas precisa ouvir mais o público e corrigir detalhes que fazem diferença na experiência. O modelo com múltiplos palcos e muitas atrações simultâneas funciona bem na Europa, mas no Brasil o público ainda prefere algo mais linear, como o Rock in Rio ou o Monsters of Rock.
No saldo geral, o festival foi sim um sucesso. Teve tropeços, claro, mas mostrou que tem força, público e potencial para se tornar uma referência duradoura. Agora, é hora de afinar os detalhes, entender o que funcionou e o que pode melhorar — e fazer de 2025 a edição mais redonda até agora.

















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