Por Thiago Tavares
Fotos: Stephan Solon / Move Concerts Brasil
No último sábado, 7 de dezembro, São Paulo viveu uma noite que entrou para a história do heavy metal. O Iron Maiden desembarcou no Allianz Parque para encerrar a turnê “The Future Past” no Brasil, mas, mais do que um espetáculo grandioso, a apresentação ficou marcada pela despedida de Nicko McBrain das turnês. O baterista, que acompanha a banda há 42 anos, emocionou milhares de fãs ao dar seu adeus aos palcos com a dignidade e o carisma que o tornaram um ícone.
Desde cedo, os arredores do Allianz Parque se transformaram em um ponto de peregrinação. Camisetas pretas com a figura clássica de Eddie — em suas diversas encarnações — dominavam as ruas, enquanto rodas de conversa e cervejas compartilhadas preparavam o terreno para o espetáculo. O público de todas as idades provava que o legado do Maiden transcende gerações. Pais e filhos, amigos de longa data, todos estavam ali pelo mesmo motivo: celebrar uma das maiores bandas da história.
Volbeat aquece o palco sob ameaça de chuva
Antes da entrada triunfal do Iron Maiden, coube ao Volbeat a missão de aquecer o público. Uma garoa leve ameaçou o início da apresentação, mas logo dissipou-se, como se até o céu respeitasse a grandiosidade do evento. O grupo dinamarquês subiu ao palco determinado a conquistar o público brasileiro e não decepcionou.
Abrindo com “The Devil’s Bleeding Crown”, o Volbeat mostrou a que veio, mesclando peso, melodia e carisma. Michael Poulsen, sempre com um sorriso no rosto, chamou o público para cantar junto, recebendo respostas entusiasmadas em faixas como “Sad Man’s Tongue” e “Wait a Minute My Girl”. Destaque para “Still Counting”, que encerrou o set com um coro coletivo impressionante. A mistura de metal, boogie rock e pitadas de country funcionou bem para esquentar o clima e preparar o terreno para a atração principal.
Iron Maiden: precisão, emoção e grandiosidade
Quando os primeiros acordes de “Caught Somewhere in Time” soaram pelo estádio, uma explosão de gritos tomou conta do Allianz Parque. As luzes futuristas, os telões grandiosos e o cenário impecável transportaram o público diretamente para a estética do álbum “Somewhere in Time” (1986), recriado com maestria pela banda. Bruce Dickinson surgiu com sua energia inesgotável, comandando a plateia com a autoridade que poucos vocalistas possuem.
Na sequência, “Stranger in a Strange Land” trouxe um dos momentos mais vibrantes da noite, com o público cantando cada verso. Steve Harris, o coração pulsante do Maiden, atacava as linhas de baixo com intensidade, enquanto Adrian Smith e Janick Gers alternavam solos técnicos e performáticos. A presença de Eddie — desta vez em uma versão futurista, digna de ficção científica — arrancou aplausos e gritos de êxtase.
A faixa “The Writing on the Wall”, do álbum “Senjutsu” (2021), provou que as músicas mais recentes ainda têm espaço e impacto em um repertório repleto de clássicos. Bruce, com seu estilo teatral, comandou o palco enquanto a multidão seguia cada gesto, cada palavra.
Porém, foi em “Alexander the Great” que o estádio veio abaixo. A estreia ao vivo dessa faixa histórica, aguardada por décadas, trouxe lágrimas aos olhos de muitos fãs. O vocal impecável de Bruce aliado ao instrumental preciso fez valer cada segundo de espera. Quando o último verso ecoou no Allianz Parque, o público respondeu com uma ovação que parecia não ter fim.
A emoção toma conta: o adeus de Nicko McBrain
O meio da apresentação já tinha sido marcado por momentos incríveis, mas o clímax veio nos últimos blocos, quando Nicko McBrain começou a atrair toda a atenção. Sabia-se que aquela era sua despedida, e a emoção era quase palpável no ar. A banda executou “The Time Machine”, com Bruce Dickinson apontando repetidamente para Nicko e pedindo palmas, o que gerou uma onda de aplausos e um coro emocionado de “Nicko! Nicko!” que tomou conta do estádio.
Quando a icônica “Iron Maiden” começou, os olhos do público estavam todos voltados para Nicko. Mesmo com movimentos mais contidos, ele entregou tudo o que podia em cada batida, conduzindo o ritmo da música que dá nome à banda como se estivesse escrevendo sua última assinatura. Ao término da faixa, Nicko foi o último a deixar o palco, jogando suas baquetas e munhequeiras para os fãs que gritavam em êxtase e lágrimas.
As câmeras mostraram rostos emocionados: fãs que seguravam cartazes de agradecimento, outros que não escondiam as lágrimas ao verem um dos maiores bateristas da história do metal deixar os palcos. Nicko não precisou dizer uma palavra. Seu sorriso e seus gestos simples bastaram para encerrar com dignidade uma carreira marcada por talento, resiliência e amor pela música.
O futuro do Maiden já começou
A despedida de Nicko McBrain trouxe um tom agridoce ao show, mas, como Bruce Dickinson fez questão de reforçar, o Iron Maiden segue firme e com planos para o futuro. O vocalista anunciou que a banda retornará ao Brasil em 2025 com a turnê “Run for Your Lives”, que celebrará os 50 anos do grupo com um setlist repleto de clássicos dos anos 80 e 90. O anúncio arrancou aplausos e deu esperança aos fãs de que o Maiden ainda tem muita estrada pela frente.
Ao final, enquanto o público deixava o estádio lentamente, o que se via eram sorrisos misturados com lágrimas. Foram quase duas horas e meia de show, mas a sensação era de que o tempo parou por um instante para celebrar o legado de uma das maiores bandas de heavy metal do mundo. O Allianz Parque se despediu com a certeza de que aquela noite será lembrada para sempre como uma despedida histórica — e uma celebração do que ainda está por vir.
Em nome do Ponto Zero agradecemos a Midiorama e a Move Concerts Brasil pelo credenciamento e a disponibilidade das fotos respectivamente.
Setlist – Iron Maiden (7 de dezembro de 2024):
- Caught Somewhere in Time
- Stranger in a Strange Land
- The Writing on the Wall
- Days of Future Past
- The Time Machine
- The Prisoner
- Death of the Celts
- Can I Play with Madness
- Heaven Can Wait
- Alexander the Great
- Fear of the Dark
- Iron Maiden
Bis:
13. Hell on Earth
14. The Trooper
15. Wasted Years
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